Pelos poderes de… Heracles

Autor: Vinícius

Ficha Técnica:

Glory of Heracles

Data de lançamento: 22 de maio de 2008

Plataforma: Nintendo DS

Outras análises do autor para o RPG: Alien. A Trilogia (livros) / SteamWorld Heist (Multiplataforma)

Quando a Enix lançou Dragon Quest em 1986, eles provavelmente não esperavam a grande quantidade de RPGs, que inspirados em sua formula, inundariam o mercado nos anos seguintes.

Entre as desenvolvedoras que se aventuraram a fazer um RPG, estava a Data East, uma empresa muito popular por seus jogos de Arcade e conversões para Nes, e em 1987 para o Famicon surgiu Tōjin Makyō Den: Heracles no Eik, um jogo inspirado na lenda dos 12 trabalhos de Heracles. O jogo foi um sucesso enorme no Japão, gerando mais 5 continuações, uma no Famicom, 2 no Super Famicom, uma no Game Boy e uma última no DS. Infelizmente após o Super Famicom, a serie simplesmente parou, e com a falência da Data East em 2003 parecia que ela nunca voltaria.

Felizmente a Paon, uma pequena empresa fundada por ex-funcionários da Data East decidiu adquirir os direitos das séries nas quais eles tinham trabalhado em sua antiga empresa, algo que quase não ocorreu pela falta de verbas, mas felizmente a Nintendo, que estava lançando o Virtual Console para o Wii, decidiu capitalizar na série, e adquiriu junto a Paon os direitos. Mas de que adianta ser dono de algo se não vai usar, portanto foi decidido que com ajuda da Nintendo, a Paon desenvolveria um novo jogo na tentativa de revitalizar a série. E hoje estamos aqui justamente pra julgar este jogo.

Um conto grego nipônico

Como muitos RPGs antes e depois de sua incepção, Glory of Heracles (GoH) começa com um jovem amnésico acordando na praia, e encontrando um jovem chamado Leucos, após se apresentarem eles descobrem que ambos são imortais e após um encontro com algumas Ninfas, o personagem principal descobre que ele possui a essência do grande Heracles dentro de si. Então ambos decidem partir juntos em busca de uma explicação para sua imortalidade. Infelizmente para eles logo a situação se complica quando encontram outro homem que jura ser Heracles. E na verdade ainda há um terceiro que jura por Zeus que ele é o lendário Heracles. E agora eles precisam descobrir a razão de tantos Heracles estarem andando por aí.

Glory of Heracles (GoH) começa com um jovem amnésico acordando na praia, e encontrando um jovem chamado Leucos, após se apresentarem eles descobrem que ambos são imortais e após um encontro com algumas Ninfas, o personagem principal descobre que ele possui a essência do grande Heracles dentro de si

Conforme o jogo progride, eles se juntam a outros personagens desmemoriados da mitologia grega, entre eles o segundo Heracles, Axios e Eris, assim como conhecem e interagem com personagens famosos como Helena de Tróia, Aquiles entre outros. E ainda por cima tentar a desvendar o mistério dos Taphus, uma mistura maldita de tecnologia e magia que esta arrasando a Grécia e aumentando a proliferação de monstros.

Pessoalmente eu gosto da história, com vários personagens interessantes e varias cenas deles interagindo entre si, e quase todos eles sendo desenvolvidos como personagens interessantes, com exceção da pobre Leucos, que funciona apenas como a voz do personagem principal e ela quase não melhora como personagem durante o jogo, o resto ainda tem historias bem definidas, muitas fiéis as suas origens mitológicas, e ainda ganham uma aparência nova quando eles recuperam suas memórias, o que na minha opinião é uma boa adição.

Mas por mais que eu goste da historia, eu tenho que mencionar que durante a metade do jogo, a historia dá uma parada, e demora muito pra retomar o ritmo.

Uma curiosidade sobre esse jogo é que um dos escritores de cenário de FFVII, Kazushige Nojima,  foi responsável pelo roteiro.

Uma beleza digna de Hefesto

Eu vou ser honesto, esse jogo é feio e genérico quanto aos gráficos. O jogo usa uma engine 3D bem medíocre, que é responsável por vários slowdowns quando se tenta ajustar a câmera dentro das cidades.

E os cenários, que ao invés de serem inspirados na geografia da Grécia, com cidades com a clássica arquitetura grega, são basicamente cidades bem genéricas que poderiam ser vistas em qualquer outro RPG com temática medieval européia, a  única coisa que parece grega são os templos dedicados aos deuses que ficam fora de algumas cidades.

Ao menos o figurino, da grande maioria dos personagens, é bem fiel ao estilo grego ou ao menos os modelitos que se veria em “Xena: A princesa guerreira”, com as únicas exceções sendo o personagem principal que se encaixaria mais em um Dragon Quest e Axios, o feiticeiro do grupo.

(…)O figurino, da grande maioria dos personagens, é bem fiel ao estilo grego ou ao menos os modelitos que se veria em “Xena: A princesa guerreira” (NE: série com temática da mitologia grega popular na década de 90)

Os inimigos também sofrem graças aos designs genéricos e sem inspiração, até mesmo os que são baseados em criaturas mitológicas sofrem disso, e pouco se parecem com o que você veria em outras histórias mitológicas.

Explorando a Grécia e lidando com suas criaturas mitológicas

Como todo RPG por turnos o gameplay pode ser dividido em 3 partes: a exploração, o combate e mecânicas adicionais.

A exploração é bem similar a outros jogos do gênero, chegando mais próximo de Dragon Quest. Você viaja de cidade em cidade, passando por várias regiões da Grécia antiga e quando você chega a alguma cidade tem de explorá-la para se curar, comprar itens e equipamentos, conseguir side quests (ou conseguiria caso o jogo tivesse alguma) e visitar ferreiros. E antes de entrar nas cidades pode-se visitar um dos templos dos deuses, que permitem que se aprenda novos feitiços, mas, devido a linearidade do jogo é quase impossível perdê-los, e caso você não os pegue na primeira visita, bom azar o seu.

O jogo não permite que você retorne as cidades já visitadas, que de certo modo é bom, pois garante que a historia progrida e o jogo possui várias cidades. Todas elas são bem diferentes umas das outras, então ao menos dá uma boa sensação de progressão, mas infelizmente pode privar o jogador de alguns dos itens mais poderosos caso este não explore a cidade com afinco.

Um detalhe mal utilizado do gameplay é a imortalidade dos personagens, que durante a exploração você pode usar dessa imortalidade para pular de lugares altos e reduzir a viagem de volta, mas não tem nenhum uso no combate como alguns jogos anteriores da serie (ver curiosidades mais abaixo).

Já o combate possui algumas idéias clássicas, e algumas novas, um exemplo de ideia clássica sendo as linhas de frente e de trás, onde o personagem que está na frente tem ataque maior (…) e a linha de trás onde os personagens tem um bônus na defesa

E não só de explorar o overworld vive um herói de RPG, ele também precisa explorar dungeons, cavernas, torres e até outras dimensões (provavelmente cortesia de Saga de Gêmeos) enquanto lidam com combates aleatórios. As dungeons são bem simples, geralmente com apenas um caminho a seguir e um desvio aqui e outro ali pra pegar novos itens, que devem ser explorados, pois contém alguns itens importantes que serão discutidos em breve, e um chefe baseado em alguma besta da mitologia grega.

Já o combate possui algumas idéias clássicas, e algumas novas, um exemplo de ideia clássica sendo as linhas de frente e de trás, onde o personagem que está na frente tem ataque maior, geralmente onde você colocaria seus personagens fisicamente mais fortes e a linha de trás onde os personagens tem um bônus na defesa, e é onde você colocaria seus curandeiros, magos e arqueiros, e na teoria 2 ou 3 personagens (dependendo de como você esta jogando) precisariam ir na linha de trás e eles se viram muito bem na linha de frente devido a dificuldade baixa do jogo. Você ainda pode usar todos os cinco personagens ao mesmo tempo, e mais da metade deles podem usar mais de uma arma, garantindo que todos sempre tenham alguma fraqueza do inimigo à mão. Os inimigos por sua vez também usam as linhas de frente e de trás, mas contam com truques próprios, como inimigos mortos vivos que caso seus corpos não sejam destruídos, ou a luta dure demais ou se levantam após alguns turnos.

Um elemento do combate que é um meio termo entre velho e novo, é o Overkill. Ele ocorre quando se dá um golpe muito mais poderoso em um inimigo que já caiu em combate, destruindo seu corpo e garantindo experiência, mana e itens extras e ainda recupera o MP dos personagens caso a luta ainda não tenha acabado. É uma técnica que facilita o treinamento de personagens e a eliminação de mortos vivos.

Uma novidade do combate é mana Elemental, quando um combate se inicia existe certa quantidade de mana no ar de vários elementos como fogo, água, vento, luz e trevas. Para se usar um feitiço de fogo, por exemplo, eu preciso de mana de terra e vento, então eu consumirei esses elementos da atmosfera, mas aumentarei o mana de fogo na mesma, o que garantira que os feitiços de terra e vento lançados depois sejam mais fracos devido a falta do mana correspondente, e os feitiços de fogo sejam mais fortes graças a abundancia de mana de fogo gerado pelo ultimo feitiço. Você pode até mesmo impedir que o inimigo use certos feitiços eliminando o mana que eles usariam da atmosfera , mas, infelizmente devido a dificuldade baixa é uma estratégia que se aplica a no máximo 4 ou 5 chefes no jogo. Mas tentar usar um feitiço sem mana resulta em um Mana Reflux que faz com que o personagem que usou o feitiço tome até 10 mil de dano, infelizmente é quase impossível fazer inimigos sofrerem com isso.

E falando em feitiços eles podem ser aprimorados participando de um mini game na tela de toque, que caso você falhe não tem nenhuma conseqüência, mas caso tenha sucesso o feitiço pode dar até três vezes de dano e curar até três vezes mais. Os personagens ainda contam com uma habilidade muito útil que acelera, e muito o combate, que quando um personagem ataca um inimigo e esse ficou com pouquíssima vida, e caso esse personagem atacasse de novo o inimigo morreria, eles farão isso, e atacarão o inimigo imediatamente o que acelera o ritmo das lutas.

(…)Falando em feitiços eles podem ser aprimorados participando de um mini game na tela de toque, que caso você falhe não tem nenhuma conseqüência, mas caso tenha sucesso o feitiço pode dar até três vezes de dano e curar até três vezes mais

O jogo ainda conta com algumas outras mecânicas que existem para complicar a exploração, a primeira é o roubo, como é tradição em RPGs sempre que se chega a uma nova cidade o primeiro instinto, aguçados desde sempre, é pilhar a cidade, abrir todos os armários, gavetas e baús, mas, ao fazer isso no jogo Leucos te avisa que isso é ruim e lhe trará conseqüências mais tarde, o que nunca é explicado e até hoje só existem especulação sobre o que isso afeta no jogo, o mais próximo que alguém chegou foi de sugerir que afeta a durabilidade de equipamento enferrujado e que tipo de equipamentos ele dá. E falando em equipamento enferrujado, em algumas cidades e todas as dungeons existem peças de equipamento enferrujado, que vão desde armaduras e armas, que quando levadas ao ferreiro podem ser restauradas e o resultado pode ser um equipamento mais forte do que o que você tem, ou mais fraco e às vezes pode ser destruído no processo, o que faz você perder dinheiro e um possível equipamento.

Fator Replay

Uma coisa que pode aumentar um replay de um RPG é um New Game+, com alguns chefes novos, ou finais diferentes. Infelizmente o jogo possui apenas um NG+ que é basicamente o jogo todo de novo, só que sem os equipamentos do fim do jogo ou os níveis, apenas permitindo ajustar a quantidade de ouro e experiência, e permitindo pular a área de tutorial no começo do jogo. O que não é muito interessante. Os produtores mencionaram que você poderia visitar novas áreas que expandem os lugares que você já visitou, mas não me lembro de ter ido a nenhum lugar novo durante a minha jogatina.

O jogo ainda conta com um modo survival que é desbloqueado após completar o jogo, nesse modo o jogador tem de sobreviver a 117 batalhas, e o prêmio por completar o modo é um novo personagem jogável, Aquiles

O jogo ainda conta com um modo survival que é desbloqueado após completar o jogo, nesse modo o jogador tem de sobreviver a 117 batalhas, e o prêmio por completar o modo é um novo personagem jogável, Aquiles. Infelizmente ele só pode ser usado no modo survival, o que é uma pena, pois um personagem a mais no jogo principal teria dado algum incentivo pra jogar novamente.

Curiosidades Hercúleas 

  • O item usado para curar envenenamentos no jogo é chamado de Mithridate, em referência a Mithridate VI, um personagem da mitologia grega que para evitar o mesmo fim de seu pai começou a se medicar com pequenas doses de veneno a fim de se tornar imune a eles;
  • Enquanto este jogo em particular não faz um bom uso da imortalidade dos personagens, jogos anteriores usaram-na de maneira muito interessante, como por exemplo, o IV onde seu personagem tem sua alma separada do corpo e cada vez que ele morre em combate sua alma vai pra um corpo novo, com equipamento e habilidades diferentes, ou ainda antes que quando um personagem era derrotado em combate, simplesmente se levantaria após alguns turnos, pois são todos imortais, coisa que não acontece nesse jogo;
  • Glory of Heracles III é o jogo mais antigo conhecido contando a história de um imortal sem memória;
  • A versão americana do jogo tem o combate mais rápido após varias reclamações de jogadores japoneses e da mídia especializada;
  • Quando seu personagem esta tentando passar incógnito no começo do jogo, seus colegas sugerem que você não se identifique como Heracles, então o jogo lhe dará a opção de dar nome a seu personagem, um de seus colegas sugere o nome Pit. O jogo ainda conta com referências a Zelda, Punch-Out entre outras séries da Nintendo.

Veredito:

Pra quem já é um veterano do gênero, eu digo que esse jogo não vale a pena a não ser que se consiga por um ótimo preço. A história é interessante, o sistema de combate é bom e o mundo é até interessante, mas a dificuldade baixa e a má utilização dos vários elementos de combate fazem dele um jogo mediano. Porém, eu o recomendaria para iniciantes já que explica bem vários sistemas que são usados em outros RPG. Ou até mesmo pros fãs de mitologia grega, graças a grande quantidade de personagens mitológicos e monstros obscuros da mitologia, e depois veja-os se irritarem com representação dos monstros.

No mais se quiser algum jogo envolvendo imortais desmemoriados eu recomendo procurar uma ROM de Glory of Heracles III ou Lost Odyssey, pois esse é o mais fraco da série.

Referências

Retrospectiva da serie feita pela IGN: aqui.