De uns tempos pra cá, a internet tem fervido com debates sobre representatividade (étnica, cultural, de gênero e por aí vai) na mídia – e, como não poderia deixar de ser, nos games.
Quem curte sabe quantas personagens femininas entraram para a história dos games: Lara Croft (Tomb Raider), Samus Aran (Metroid), Kitana (Mortal Kombat)… a lista é longa – e isso é ótimo. Mas esses são nomes que quase todo mundo conhece, por isso hoje vamos listar algumas personagens menos conhecidas ou lembradas pela comunidade gamer, começando com uma de minhas favoritas:

Shanoa

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“I am the blade to banish all evil, and I’ve come to see you annihilated”.

Shanoa é a protagonista de Castlevania: Order of Ecclesia, lançado em 2008 para o Nintendo DS. Seu papel é combater e destruir Drácula na ausência do clã Belmont, tradicionais defensores da humanidade contra o lorde das trevas, o que faz dela a primeira protagonista feminina da série na linha do tempo oficial.
Desde o início, Shanoa se mostra forte e decidida, porém fria e distante de todos. Suas memórias e emoções foram roubadas dela, deixando nada além de um senso de dever que a faz seguir sempre frente.
E por que você deveria amar ou ao menos admirar Shanoa? Bem, uma das principais reclamações que flutuam pelos já mencionados debates sobre representatividade feminina é a forma como, mesmo na condição de protagonista, a mulher quase sempre depende de uma figura masculina para dar sentido e transformar sua história. Seja um pai, irmão ou namorado, o homem quase sempre está lá, como se a mulher não pudesse decidir sozinha o rumo de sua própria jornada.
Mas isso não acontece com Shanoa. Embora tenha um mentor e um irmão adotivo, Shanoa toma suas próprias decisões quando as coisas parecem fora do lugar. Mais do que isso, sua jornada é focada em recobrar suas próprias memórias e emoções (além, é claro, de destruir o lorde vampiro Drácula). Seu relacionamento com Albus, o irmão adotivo, também se desenvolve em uma história muito bonita.
Order of Ecclesia é um jogo fantástico, perdendo (na minha opinião, é claro) somente para o lendário Symphony of the Night quando se trata dos jogos 2D da série. Shanoa é uma personagem igualmente fantástica, e é uma pena que não tenha sido mais utilizada em jogos da série, aparecendo apenas no bombástico Judgment (Nintendo Wii), e no multiplayer Harmony of Despair (Xbox 360/Playstation 3). Mas quem sabe no futuro?

Curiosidade: tecnicamente, Shanoa não é a primeira protagonista feminina da série. Esse título pertence à Sonia Belmont, de Castlevania: Legends (1997, Game Boy). No entanto, como o jogo foi limado da linha do tempo da série, Shanoa costuma ser mencionada como a primeira mulher a protagonizar a luta contra o conde Drácula.

Lili

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“I’ll be done with you before tea time”.

Quando falamos nas mulheres de Tekken, os nomes que surgem são Asuka Kazama e Nina Williams, as meninas mais famosas da franquia. Mas não hoje.
Emilie De Rochefort, mais conhecida como Lili, é uma estudante monegasca e filha de um magnata do petróleo. Teve sua estreia em Tekken 5: Dark Resurrection (2005, PSP) e é conhecida como uma das lutadoras mais arrogantes da franquia.
Mas a verdade sobre Lili é que, por trás da autoconfiança exagerada, há uma garota gentil, amável e que ama o pai a ponto de entrar no torneio da megacorporação Mishima Zaibatsu para salvá-lo da falência (e também para saciar uma vontade quase incontrolável de lutar).
Eu tenho uma queda por personagens confiantes, e gosto da Lili em especial por ter esse lado mais gentil que não se manifesta sempre. Não costumo jogar com ela (jogo sempre com os brucutus, tipo King e Armor King), mas é uma personagem que acrescenta ao elenco e que eu gostaria muito de ver por aí.

Curiosidade: com apenas 16 anos em Tekken 6, Lili é a personagem mais jovem da série.

Terra

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“There will always be new dreams to follow!”.

Ok, Terra Branford é uma figurinha batida em listas como essa, mas merece ser mencionada mesmo assim. A protagonista de facto de um dos maiores clássicos do RPG, Final Fantasy VI (1994, Super Nintendo), e a primeira protagonista feminina da franquia, Terra é uma garota misteriosa e sem rumo. Ela teme que seus poderes sejam usados (novamente) para o mal e desconfia de qualquer um que possa ter esse tipo de intenção.
Além do pioneirismo, Terra é uma personagem especial por construir sua própria história, de maneira similar à Shanoa. O “mocinho” Locke Cole a salva logo no início do jogo, mas Terra trilha sua própria jornada junto dos amigos e apresenta um desenvolvimento de personagem maior do que a maioria, além de ser a “garota propaganda” do sexto volume dessa que é uma das mais amadas séries de RPG de todos os tempos.

Curiosidade: Terra é a personagem com o maior volume de artes oficiais de toda a série Final Fantasy.

KOS-MOS

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“Relinquish your pain unto me”.

A série Xenosaga (2002-2006, Playstation 2) está longe de ser uma das populares do universo RPG, mas isso não significa que não encontremos grandes personagens nela.
Embora a protagonista da série seja a cientista Shion Uzuki, quem jogou essa pérola do RPG japonês sabe que a estrela da história é KOS-MOS, uma misteriosa ginoide (equivalente feminino de um androide) com incríveis poderes e uma personalidade intrigante.
KOS-MOS é a personificação do eterno conflito entre homem (ou, nesse caso, mulher) e máquina. Se por um lado ela tem certeza que é, em suas próprias palavras, “apenas uma arma”, por outro parece ter dúvidas quando certas questões surgem diante dela. Seu desenvolvimento ao longo da trilogia é fantástico, em especial a maneira como ela se torna mais humana e afável com os aliados. O grande segredo de sua origem também é de cair o queixo (o que vale para toda a trilogia, na verdade).

Curiosidade: KOS-MOS é uma sigla para “Kosmos Obey Strategical Multiple Operation System”, algo como “Kosmos Obedece Sistema de Estratégia de Operação Múltipla”.

Alice

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“Is it mad to pray for better hallucinations?”.

Um personagem da literatura clássica muito antes dos games, Alice (sim, a do País das Maravilhas) é a protagonista de duas versões macabras do clássico de Lewis Carrol: “American McGee’s Alice” (2000, PC) e “Alice: Madness Returns” (2011, Xbox 360/Playstation 3/PC). Ambos os games contam a jornada de Alice Liddell em um País das Maravilhas sombrio e completamente distorcido pela loucura.
Em ambos os games, sendo o segundo uma continuação do primeiro, a jornada de Alice é extremamente emocional e profunda. Uma jornada de autoconhecimento e superação pessoal. Madness Returns, por sinal, é um dos games mais mórbidos e sombrios que já joguei. Quando as peças se encaixam e você finalmente entende o que aconteceu, você percebe que o game ousou ir mais longe que qualquer outro e explorar um tema que raramente é citado na indústria dos games. É adulto, emocional e perturbador, uma das razões pelas quais Madness Returns se tornou uma experiência marcante para mim.
De uma maneira metafórica, a jornada de Alice é a jornada de muitas meninas que sofreram traumas horríveis na vida real. É uma libertação da culpa e de tudo de ruim que essas más experiências podem incutir em uma mente em desenvolvimento. À sua maneira, Alice: Madness Returns é uma experiência horrível e maravilhosa, e Alice, um raio de luz em um mundo de trevas.

Curiosidade: nascida em 4 de maio de 1852, em Westminster, Reino Unido (e falecida desde 16 de novembro de 1934), Alice Pleasance Liddel existiu de verdade, sendo a inspiração para a obra de Lewis Carroll. O relacionamento dos dois é motivo de polêmicas até hoje.

Menções Honrosas

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Morrigan (Dragon Age): forte, sarcástica e mal humorada (mas com um lado doce, se você conseguir chegar lá), Morrigan transborda carisma e se mostra uma personagem importantíssima na trama e no universo de Dragon Age.

 

 

 

 

Sem título

Sakura Kasugano (Street Fighter): a Chun-Li e a Cammy são legais, mas a Sakura também merece um holofote de vez em quando.

 

 

 

 

 

 

Sem título

Tali (Mass Effect): minha personagem feminina predileta desde o primeiro game da série, Tali pertence a uma raça desprezada pelo restante da galáxia, mas, mesmo assim, une-se ao(à) comandante Shepard para salvá-la dos Reapers. Uma personagem inteligente, engraçada e com um lado emocional muito bonito.

 

 

 

 

Por hoje é só. Lembrando que, como qualquer outra lista, esta é baseada em nada além da minha opinião (a qual pode mudar no passar de algumas horas). O multiverso gamer está repleto de personagens femininas notáveis e listá-las em sua totalidade seria uma tarefa monumental, por isso ficamos por aqui. Até a próxima!